VIRGÍNIA
PINHO
A mostra Harun Farocki – o trabalho com as imagens aconteceu no Cinema do Dragão e no Centro de Narrativas Audiovisuais, o Cena 15, entre os dias 14 e 20 de dezembro de 2017. Realizada com recursos públicos, através do edital Temporada de Arte Cearense (TAC) e do Edital das Artes da SecultFor, toda a sua programação é gratuita. Apesar de ser uma pequena amostra da obra de Harun Farocki, esse é o maior conjunto dela apresentado no Ceará até então. É também a primeira vez que teremos instalações do artista em um espaço da cidade.
Harun Farocki (1944 – 2014) foi um dos mais respeitados realizadores da Alemanha. Sua obra tratou frequentemente de questões ligadas à produção e a percepção de imagens, constituindo-se numa profunda autorreflexão sobre a cultura audiovisual e a tecnologia, a proliferação de mídias, a explosão de consumo e a produção da informação – assuntos de indiscutível relevância na sociedade contemporânea.
A obra de Farocki se movimenta na direção de produzir pensamento crítico. Ele desenvolve uma forma estética múltipla e experimental que tem muito a nos ensinar sobre como fazer um cinema que não parou de pensar. Ao mesmo tempo, também nos revela os meandros do ofício do cineasta que, como um mestre artesão, não separa a matéria do pensamento.
O conjunto de doze filmes apresentados – produzidos entre 1969 e 2010 – teve como fio condutor o modo como o artista exerce seu trabalho ao mesmo tempo em que conduz a um recorte modulado pela categoria trabalho em sua obra. Seu foco sobre o mundo do trabalho permite conectar questões que são profundamente atuais para nós brasileiros. Suas discussões sobre a relação homem-máquina e os impactos das novas tecnologias sobre os trabalhadores, exploram um ininterrupto ensaísmo que não se desligam, por nenhum momento, do horizonte de compreensão do movimento duplo de inércias e transformações da sociedade. Talvez por isso que a obra deste cineasta, como as de Walter Benjamin, por suas potências de pensamento, forma estética e gesto crítico, instiga e permanece atual para tantas pessoas, de diferentes perfis intelectuais – sociólogos, filósofos, historiadores, teóricos de mídia, artistas, críticos do cinema, críticos de arte, cinéfilos...